









A vida dos italianos em São Paulo
Todo imigrante tenta, conforme possível, reconstruir parte do estilo de vida que se tinha no país natal, buscando criar vínculos com pessoas da mesma origem, morar próximos um dos outros, montar clubes e jornais. Com os italianos não foi diferente.
Como meio de comunicação informativa foi criado o jornal chamado Fanfulla, fundado por Vitaliano Rosselini em 1893. O jornal foi publicado como diário até 1965 e depois passou a ser semanal, alterando o nome para La Settimana del Fanfulla. Foi o primeiro jornal paulista a adquirir linótipos em 1905 e tinha uma tiragem de 15 mil exemplares, quantidade significativa comparada com o jornal paulista O Estado de São Paulo que ultrapassava um pouco mais de 20 mil exemplares.

Página do jornal Fanfula
Grande parte do seu sucesso foi devido à seriedade do jornal e o serviço de notícias que combinava notícias sobre a Itália, o Brasil e a colônia italiana. Mas, com o tempo, o jornal foi perdendo a importância junto com as medidas repressivas do governo brasileiro contra a imprensa no período da Segunda Guerra Mundial.
Como a maioria, os italianos que vieram para o Brasil estavam tão preocupados com a sobrevivência e com poupar economias que deixaram a educação para segundo plano. Uma das poucas iniciativas que obteve sucesso foi o Instituto Médio Italo Brasiliano Dante Alighieri, um dos colégios mais tradicionais de São Paulo e que ainda está ativo. Mas, na época, as escolas italianas não obtiveram sucesso em educar os filhos de italianos nascidos no Brasil, o que facilitou a assimilação da cultura brasileira pelos mesmos.
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No início do século XX, o futebol era um esporte de elite praticado somente por pessoas ricas, mas com o passar do tempo tornou-se mais popular. Em 1914, os bairros italianos começaram a se organizar e foi fundado o time Palestra Italia, que tinha em seu uniforme as cores branco, verde e vermelho para mostrar a origem italiana. O time foi um sucesso, o que ajudou a popularizar ainda mais o esporte entre os italianos. Durante a Segunda Guerra Mundial, mudou o nome para Sociedade Esportiva Palmeiras que mantêm o nome até hoje.
Os italianos encontraram pouco preconceito na sociedade brasileira e o pouco preconceito que sofreram resultava de sua origem pobre. Por outro lado, eram brancos e europeus em uma sociedade que admirava essas características. Por terem uma língua similar ao português, a compreensão do idioma italiano foi rápida, principalmente em São Paulo no início do século XX, o que tornou comum ouvir mais o italiano do que o português em bairros de origem italiana como Brás, Bexiga e Barra Funda. Com o tempo surgiu a cultura chamada ítalo-brasileira, que tinha hábitos, músicas e outras características particulares, como uma língua formada pela junção do italiano e do português. Podemos ter uma ideia de como seria esse idioma através de um personagem de Alexandre Marcondes de Machado chamado Juó Bananére.

Alexandre Marcondes de Machado (Pseudônimo: Juó Bananére)
Migna terra tê parmeras,
Che ganta inzima o sabiá.
As aves che stó aqui,
Tambê tuttos sabi gorgeá.
A abobora celestia tambê,
Che tê lá na mia terra,
Tê moltos millió di strella
Che non tê na Ingraterra.
Os rios lá sô maise grandi
Dus rios di tuttas naçó;
I os matto si perde di vista,
Nu meio da imensidó.
Na migna terra tê parmeras
Dove ganta a galigna dangola;
Na migna terra tê o Vap'relli,
Chi só anda di gartolla.
Paródia de Juó Bananère ao poema "Canção do exílio" de Gonçalves Dias

